30 dias. Daqui a 30 dias sou um homem casado. Daqui a 30 dias sou oficialmente, aos olhos de Deus e da lei dos homens, o marido de uma mulher. Linda. Doce. Sensata. Exigente. Honesta. Adalgisa. Minha. 30 dias. 30 dias, não para fazer de mim um homem, mas para começar a pôr à prova o homem que eu sou. Não começar propriamente, na verdade é continuar. Já vivemos juntos, já partilhamos tudo, já gerimos conflitos, fazemos planos, rimos e choramos juntos.
É só uma confirmação, uma afirmação, uma assinatura apenas, não muda nada, certo? ERRADO. Muda tudo. Sem mudar o fundo, muda tudo. Passamos a ser um só. Já não há tu + eu. Há nós. Para tudo. Nada é mais difícil do que conjugar duas pessoas numa só.
Nada é mais difícil do que encontrar consenso em duas mentes, dois carácteres, duas personalidades, dois corações. Parece simples, mas não é. Não é só juntar dois corpos sob o mesmo tecto. É juntar duas almas sob o mesmo juramento, é mantermo-nos fiéis a nós mesmos, e ao que esperamos e prometemos ao outro. É uma formalidade que existe há tempo demais para contarmos, mas cujo impacto simbólico e emocional é muito próprio a cada um. A cada dois. Eu tenho uma mulher capaz de me suportar, de me apoiar, de me aconselhar, de me ajudar, de me ralhar, de me emendar, de me consolar, de me chamar a atenção, de me motivar a alcançar as estrelas... de me AMAR.
Não de um amor idílico com nuvens cor-de-rosa, unicórnios e arco-íris, e que ignore a realidade crua e nua deste mundo. Não. Um Amor, o único amor, baseado na construção de uma vida a dois, na superação de que se é capaz quando agimos por algo maior que nós próprios. Peço todos os dias a capacidade renovada de fazer o mesmo por ela. Peço todos os dias que a rotina, os problemas, as dificuldades sejam provas que nos fortaleçam, que cada pedra que nos é atirada sirva a edificar a nossa muralha e nos proteja de agressões futuras. Peço paciência, tolerância, bravura, rectidão, para poder ser o farol desta família que constituirei de forma oficial daqui a 30 dias. Tudo o que eu peço, tudo o que eu quero, é pousar a cabeça ao lado da tua, é acordar com o teu beijo, é olhar na mesma direcção que tu, é ter a tua mão para caminhar os anos que nos forem dados a viver sobre esta terra. Sei que daqui a 30 dias não vai haver um minuto para respirar, tudo vai ter de respeitar um timing absolutamente escrupuloso (que muito provavelmente não será respeitado...); então, antes de estarmos submersos pela solenidade, antes de termos 300 pessoas de olhos fixos em nós, antes de este magnífico caos que vivemos estes últimos meses se alinhar e fazer sentido, TODO O SENTIDO, deixa-me dizer-te, Adalgisa Borges de Sousa, o quanto te amo. Amo-te ao ponto de querer ser todos os dias melhor do que na véspera; amo-te ao ponto de querer renovar os meus votos diariamente, com gestos simples, que te façam sentir o quanto és parte de mim. Amo-te ao ponto de querer o melhor para ti, que cresças e continues a desenvolver a mulher linda, carinhosa e batalhadora que por milagre se apaixonou por mim no fim do Verão, há quatro anos atrás. Amo a pessoa forte e frágil, tolerante e teimosa, directa e hesitante, madura e mimada, guerreira e anjo, que me ajuda a aliviar o meu fardo diariamente. Amo a maneira como me fazes sentir. Sempre. Até quando estou de burros amarrados. Até quando penso que sei tudo, e acabas por me ensinar da maneira mais simples que o que sei hoje pode não ser válido daqui a 5 minutos.
Amar na felicidade, na facilidade, na opulência, é fácil. Amar na provação, na dificuldade, no erro, na falta de tudo o resto, é Amar com A maiúsculo. É como já me provaste que me amas, e é como quero passar a minha vida a provar que te amo. Daqui a 30 dias. Daqui a 30 anos. Até ao meu último suspiro.