Friday, January 24, 2014

SNOB...



Tenho um grupo de antigos colegas da faculdade que me convidaram pra ir ao cinema no Colombo. Recusei horrorizado,  eles não perceberam o porquê. Pronto, já não são amigos. Meus, pelo menos, não.  Temos valores demasiado diferentes para tal amizade vingar (a prova que a democratização das faculdades, mesmo as mais elitistas, é o garante da perda de determinados valores que, quanto a mim, devemos perpetuar).

Para mim, cinema só se for pra ver filmes de autor no São Jorge ou na Culturgest. Compras só no triângulo Braamcamp/ Castilho/ Avenida, e restaurantes só com estrela Michelin e/ou "chef" famoso. Não vou pros copos no Bairro, isso era aos 15 anos, durante a minha crise de adolescência. Hoje aos 30 e poucos, vou a sítios que de tão confidenciais, nem eu lhes conheço o nome... mas os porteiros fazem-me vénia sempre que lá vou. 3 vezes por semana. E ao fim de semana. Enquanto outros procuram férias em conta no país, eu preciso de fazer 1000 km para me sentir suficientemente "dépaysé" (e sim, adoro um bocadinho de "french dropping", é tão chic!); se porventura devo ficar em Portugal durante um período de férias, tomo sedativos suficientes para só acordar no interior seguro da Quinta do Lago, com o motorista a abrir-me a porta do carro.  

No dia-a-dia não ando de transportes públicos, estão cheios de gente estranha; tamém não conduzo, não quero contribuir para o efeito de estufa, o planeta agradece. Desloco-me exclusivamente de taxi, aliás, de que me serviria ter um numero de cliente VIP se não lhe desse utilidade? E sejamos sinceros: no meu duplex ali mesmo a dois passos do Jardim da Estrela, ter carro seria uma dor de cabeça descomunal. Então, TAXI. Mas atenção: SÓ MERCEDES. Novos. E pretos. Totalmente. acho qualquer outra cor de mau gosto. A minha actividade profissional não me permite "fautes de goût". Sim, porque eu tenho um trabalho onde a imagem é primordial. Eu diria mesmo que é TUDO. Sim, sem exagero. Tirando ser bem parecido e discutir de ideias com os meus colegas/ amigos artistas e pensadores (os mesmos desde os bancos do colégio Valsassina, seguimo-nos até aos anos de orgia na Católica, e hoje recusámos estar à cabeça das empresas dos Papás, pois não fazemos puto de ideia do que nelas se passa) a minha actividade laboral é bastante light.

Sou um artista na alma, e as grades de um emprego convencional asfixiariam a minha criatividade. Pinto um quadro ou cago uma escultura de 4 em 4 anos, e consigo mover meio mundo e o outro para irem apreciar o meu laivo criativo, numa galeria daquelas de renome, cujos patronos são as empresas de maior renome ainda dos amigos do Papá. Como todo o artista, a minha necessidade devorante de inspiração para as minhas raríssimas peças leva-me a viajar pelo mundo inteiro, conhecer diferentes realidades e room services, ajuda-me a construir a minha "Humanidade"... O meu modelo absoluto é o Johnny Depp, por quem nutro uma secreta paixão platónica desde os 12 anos de idade. Detesto a adoração que lhe fazem os hipsters de 20 anos, que o descobriram como Pirata das Caraíbas. Coitados, não viveram o suficiente para conhecer a sua magnífica interpretação no "Eduardo-Mãos-de-Tesoura"... Passar do universo magnífico e surrealista de um Tim Burton para a mesquinhês de uma super-produção Disney é algo que só consigo perdoar a este ser humano, a nenhum outro! 

Para os meus amigos cinéfilos de centro comercial, sou um cliché ambulante, um rico arrogante e pedante. Para a maioria das pessoas, cujas vidas monótonas e vulgares se pintam num longo e entediante quadro monocromático, eu sou a luz que eles sonham ser e nunca serão.  Sou a cor que eles querem ter e nunca terão. Porque não é algo que se possa adqurir do dia para a noite, nem com muito dinheiro. Temos visto por aí que o dinheiro não compra bom gosto, que o digam os angolanos e chineses que pululam neste país com malas de dólares, prontos a disparar as suas notas em todas as Louis Vuitton desta vida para se aproximarem o mais possível da quintessência da elegância e do savoir vivre: EU. Por mais que se pintem, que mandem gravar LVs e GG em todas as malas, cintos, pratos, talheres e estofos de carro (quelle horreur!)... não nasceram, NUNCA SERÃO.