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Wednesday, November 15, 2006

PANEM ET CIRCENSES



Pão e circo. Pão e jogos. Pão e divertimento. Eis uma divisa formulada ha centenas de anos e que hoje mais do que nunca se aplica à sociedade na qual vivemos. Podia ser o resumo da "evolução" humana.

Na Roma Antiga, o filosofo e satirista Juvenal utilisou a expressão para dizer que o poder dava ao povo o minimo e indispensavel para matar a fome, e organizava jogos de circo para ocupa-lo, e assim distrai-lo dos verdadeiros problemas politicos e sociais. Pois é, a Patria Mãe da Republica e da democracia (não nos esqueçamos da etimologia da palavra: demos (povo) + cratia (poder)= poder do povo) conheceu os mesmos problemas que todas as nações que actualmente se dizem democracias. A diferença é que hoje o circo é 100000 vezes mais eficaz na sua missão de distracção. Jornais, revistas, radio, mas sobretudo, os mais potentes de hoje e amanhã, a televisão (hoje) e a internet (amanhã).

Impossivel ignorar que o Tom Cruise vai casar (ou jà casou?) na Italia, até no jornal das 8h passa, ou que a Madonna adoptou uma criança do Malawi, que a Britney vai divorciar (ou ja divorciou?) e que o Brad Pitt e a Angelina Jolie tiveram uma filha nascida na Namibia. E para estas supostas "informações", hà uma procura imensa, dai a multiplicação de revistas especializadas nesse tipo de temas, as emissões "people" na televisão, os sites internet de "gossip"... Enquanto houver estes niveis de audiencia para tal circo, ha de haver grupos de media que se tornarão super ricos e influentes a venderem nos vento e a tentar controlar as nossas mentes. Conspiracy theory? Sera que eu estou em pleno delirio paranoico? Não, amigo leitor, apenas a tentar compreender aquilo que vejo.
Para falar de internet, jà que é o media que eu escolhi para me exprimir (o unico no qual eu posso dar a minha opinião tão facilmente), até nos sites de informação se generalizou a tendencia da info-trash. Exemplo: abro hoje o angonoticias, e tenho em noticia de destaque "A turma do verbo encher: oposição continua a defraudar". Sera que este tom jornalistico é o mais indicado para um dos sites de informação Angolano mais visitados pelo mundo afora?

Pois é, caro leitor, nohs vivemos numa mise en scène permanente, onde o interesse das pessoas pela sociedade é condicionado por quem nos fala dela. E mais facil sensibilizar a população mundial aos problemas ambientais com uma estrela de Hollywood do que com ministros e presidentes em conferencias em Kyoto ou onde quer que seja. A adopção de crianças do terceiro mundo passou a existir desde que a Madonna ou a Angelina Jolie adoptaram, antes disso, acho que nunca tinha sido feito. E mais facil interessarmo-nos pela guerra de Troia quando é o Brad Pitt o Aquiles; até porque a Iliada é um livro grande e chato que levaria meses a ler, quando o filme dura uma hora e meia. Alexandre o Grande torna-se ainda maior quando o Colin Farrell o incarna, mesmo se no filme ele passa por um degenerado sanguinario cujos unicos objectivos na vida eram matar e fornicar...
Eu sou o primeiro adepto da futilidade. Mas ela constitui para mim um complemento que me permite um certo recuo em relação ao mundo, porque ninguem pode viver serenamente tendo em mente apenas os inumeros problemas da humanidade. Se pensassemos so na fome no mundo, nos problemas de disparidade entre ricos e pobres, na protecção do meio ambiente, nas guerras, corrupção, etc, etc, iamos direitinhos ao suicidio colectivo à escala mundial. Não. O inutil é nos util. Mas em que proporções?

Panem et circenses... pão e circo. Pão e jogos. Pão e divertimento. DIVIRTAM-SE!

Wednesday, November 08, 2006

A Black Man in the White House?


Hà dias vi uma reportagem sobre o deputado democrata americano, Barack Obama.

Filho de um economista Kenyano e de uma descendente de Jefferson Davies (1808-1889, Presidente dos Estados Confederados -do Sul- durante a Guerra de Secessão Americana), este jovem homem politico americano, depois de um percurso universitario exemplar (ciencias politicas e relações internacionais em Columbia, direito em Harvard) envereda pela defesa dos direitos civicos antes de seguir uma carreira politica que o leva a ser eleito Senador do Estado de Illinois em 2004 (unico "afro americano" actualmente no Senado).

Puro produto do American Dream, Obama apresenta-se hoje como um potencial candidato Democrata às eleições presidenciais de novembro de 2008. Apresentado como um candidato capaz de reunir os Americanos quaisquer que sejam as diferenças, ao invés dos republicanos, cuja estratégia -segundo os democratas- é de dividir, Além da success story, o que me pareceu interessante no documentario foi a percepção que os americanos têem dele. O facto de ser mestiço nos Estados Unidos pode ser um freio às suas ambições politicas. Tiger Woods, famoso jogador de golf cujo pai é "afroamericano" e a mãe de origem tailandesa, provocou um movimento de revolta junto da comunidade negra nos EUA quado afirmou que ele não era SOMENTE afroamericano. Sejamos claros: nos Estados Unidos, um individuo que tenha uma gota de sangue negro não é mestiço, mulato, ou seja là o que for; é Negro. Mesmo se a Mãe deste é loira e de olhos azuis. O que quer dizer que, para a "comunidade", este tera que mais ou menos renunciar ao seu lado "branco" para nã ser considerado como um "vendido".

Estranho paradoxo, que a sua "origem" lhe possa abrir a simpatia dos media e ao mesmo tempo torna-lo indesejavel junto de uma comunidade que deveria ser a primeira a apoia-lo. São apenas suposições da minha mente fértil, mas esperemos que os negros americanos se mostrem mais cidadãos que nas ultimas eleições e se ajudem a eles mesmo antes de se perguntarem de que forma é que os outros lhes podem ajudar.

Thursday, September 21, 2006

Autopsia de um golpe de Estado

Golpe de Estado: tomada, mais ou menos violenta, das instituições mais importantes de um país, tendo em vista a substituição de um governo por outro.

Houve à semanas na Tailandia um golpe de Estado. Militares com nomes impronunciaveis (tentem là dizer Sonthi Boonyaratkalin de uma vez sem soletrar e sem hesitar...) tomaram o Poder e destituiram o Governo. A minha grande ignorancia em matéria de geo-politica, em particular no que diz respeito à Asia, faz com que eu pouco ou nada possa dizer sobre o Governo destituido, tão pouco tenho uma real opinião sobre o assunto. Mas, ironicamente, eu tinha acabado de ler dias antes do acontecimento, O Ditador e a Rede, de Daniel Pennac, que conta "a história de um ditador agoráfobo[...] numa dessas repúblicas de banana com terras de um subsolo rico o suficiente para que alguém ali queira tomar o poder e áridas o bastante, na superfície, para serem férteis em revoluções[...]" Pennac não quis de maneira nenhuma escrever um livro politico, mas sim um conto, onde ele expõe algumas razões que podem levar um homem (ou um grupo de homens) a tomar o Poder pela força.

Mesmo se os meios variam da ficção à realidade, de um Pais a outro, os golpes de Estado seguem invariavelmente, e isto desde a Antiguidade (lembrem-se de César e Brutus, "tu quoque mi fili!" - até tu meu filho!) um mesmo esquema: descontentamento (nem sempre dos mesmos), inércia da parte do poder, organização da oposição, complot, acção, queda de uns, subida de outros. On connaît la chanson. Infelizmente, tambem conhecemos o resultado, por vezes caotico, de tais aventuras. O que me fascina nisso tudo, são as motivações de uns e de outros. Castro, Kadhafi, Pinochet, Carmona, Franco, Hitler (mesmo se o golpe de Estado que ele tentou falhou, e ele subiu ao poder mais tarde de maneira totalmente democratica)...
Tantos discursos sobre o bem do Povo, sobre a exploração dos mais fraco pelos mais fortes que todos querem fazer cessar, para no fim e no fundo ir dar tudo mais ou menos no mesmo: Ditadura!
Não ha nada mais triste do que tomar um Poder que não estamos prontos a assumir, justificando os nossos actos com grandes ideais. Sobretudo se é para no fim sermos nos a privar os outros da famosa liberdade pela qual supostamente combatemos. Boa sorte, Tailandia, e espero que me provem que esta minha visão realistico-pessimista das coisas não é sistematicamente verdadeira...